Em meu consultório, tenho o privilégio de receber depoimentos de resiliência de centenas de pessoas. Aproveito a oportunidade neste mês das mães para compartilhar a jornada de Ana (nome fictício), uma mulher que, quando me procurou, enfrentava um segundo câncer e não tinha ânimo para iniciar o tratamento. Ela sofria com a sensação de falta de cuidado, tristeza profunda, ansiedade e estava querendo desistir.
“Estou aqui porque meus filhos precisam. Por causa deles, eu não posso desistir”.
A gravidade do tratamento aumentava exponencialmente o medo do desconhecido. As dúvidas sobre o futuro, a possibilidade de sequelas e o impacto na vida familiar a consumiam. Um misto de sentimentos confusos a perturbava. Sensação de medo, desespero e a dúvida: por que eu não sinto mais vontade de lutar?
Ana buscou ajuda para resolver o que estava implícito em seu íntimo para poder enfrentar o desafi o explícito do câncer em sua vida.
Neste mês das mães (maio 2024), ressalto sua força como mãe. Ana foi motivada por seus filhos a buscar ajuda, pois não tinha mais energia para enfrentar o câncer novamente, que agora se manifestava de forma mais agressiva. Ela compreendeu que necessitava passar pela Terapia de Reintegração Implícita e agendou sua sessão para um dia antes da quimioterapia. Nosso foco seria encontrar sua parte chamada “coragem” para ela não desistir sem lutar.
A Terapia de Reintegração Implícita é uma psicoterapia breve, baseada nas Neurociências Afetivas e focada na resolução de queixas específicas. Na terapia, Ana identificou qual parte dela se sentia desamparada e assustada. Ela compreendeu que esta sensação de desamparo estava relacionada às brigas do pai com seu irmão mais velho. O medo estava lá, como se estivesse congelado por todos esses anos. Frente ao novo desafio, ela se viu encolhida e sem forças.
O processo todo durou cerca de duas horas. Novos aprendizados, redes neurais de resiliência e enfrentamento foram fortalecidas para ela lidar melhor com o medo e a ansiedade das questões presentes. A grande virada foi identificar a origem do sofrimento, compreender os conflitos inter-relacionais e reeducar o emocional, assim, cultivando uma atitude mental de superação para ela prosseguir com mais clareza e autonomia.
Enfrentar um câncer é um desafio enorme para qualquer pessoa, e ainda mais para uma mãe solo de duas crianças. No entanto, Ana encontrou dentro de si a força para seguir em frente. Ela cuidou da sua “criança interior”, reconheceu suas dores e aprendeu a lidar com elas de forma mais positiva. Essa jornada de resiliência a tornou mais forte e preparada para enfrentar os desafios da vida.
Antes de concluir, preciso compartilhar a boa notícia: Ana segue sua jornada como uma mãe incrível, não mais de duas crianças, elas cresceram e agora são dois jovens.
A vida é uma jornada repleta de altos e baixos, marcada por momentos de alegria e superação, mas também por desafios e obstáculos. Em tempos turbulentos, a resiliência emerge como um farol, guiando-nos através das tempestades e impulsionando-nos a vencer mesmo em meio às adversidades.
Não sei quais são os seus desafi os, mas, se estiver muito difícil, não desista, busque ajuda. Lembre-se que resiliência é a capacidade de se adaptar e se recuperar diante de situações desafi adoras, aprendendo com as experiências e emergindo mais forte do que antes. Mais do que um conceito abstrato, a resiliência é uma habilidade essencial para navegar pelas incertezas no mundo. Coragem.
Artigo escrito pela terapeuta Priscila Sabka Thomassen, psicoterapia breve em Fortaleza, publicado na Revista DUO.